Quase todas as quarta-feiras, depois de um dos meus atendimentos, encontro um amigo, que aqui chamarei de Novalis (outra grande história!), muito coligado com a energia de cura. É um sócioterapeuta com uma história de vida facinante que nos prende pelos seus interessantíssimos encontros - que não consigo acreditar que sejam fortuitos - com pessoas das mais diferentes idades, posições socio-econômicas, crenças, e nos momentos e locais mais remotos deste planeta terra - um exemplo seria o antigo mosteiro de Saint Michel, na costa norte da França! Que história, que encontro..... pena que não posso revelá-la aqui!
Durante os cafés e bolos de aipim com côco (hum!), falamos sobre diversos assuntos, mas principalmente, e é o que torna este encontro mais delicioso e instrutivo, é que os assuntos da alma são os que mais nos facinam e nos prendem. Não pelo seu conteúdo esotérico ou hermético, mas pela verdade que consigo absorver deste momento - deste encontro. Uma verdade que contém a importância dos ''encontros" na nossa vida.
Acho que todos sabem o que a palavra 'encontro' significa. No dicionário, um de seus significados aparece como "ato de encontrar ou encontrar-se". Para mim esta definição seria muito normal se não fosse a minha própria experiência de encontrar e encontrar-me nos inúmeros e infindáveis encontros que já experienciei e espero continuar experienciando......
Penso que podemos ter muitos encontros durante a vida, mas poucos tem o valor e a essência do verdadeiro encontro. E isso deve-se apenas a um detalhe - e que por ser detalhe não o torna menos importante, ao contrário, torna-o mais precioso e delicado - que é a vivência do presente. Podemos nos encontrar com um vizinho, com um conhecido, com um cachorro ou mesmo com um vento forte que de repente traz consigo uma sugeirinha para dentro dos nosso olhos. Sim, podemos. E daí? E daí que podemos deixá-los passar..... e aí o encontro foi-se. A essência do momento se desfez pois nós estavamos lá nos problemas do nosso trabalho ou de nosso relacinamento, nos conflitos de nossa vida e o vizinho estava ali, bem a nossa frente com um enorme presente. O cachorro estava ali, com um enorme abanar de rabos e olhos brilhantes mostrando-nos o quão feliz ele esta em ter-nos ali - mesmo que durante aqueles milésimos de segundos....... E nós, sem aceitarmos esse presente continuamos a carregar nossas bagagem de passado e futuro e de tristezas incomprendidas......
Acho que encontros são presentes..... presentes do presente! Algumas vezes consigo sentir isso durante os meus atendimentos e enquanto caminho em qualquer lugar cheio de pessoas e situações possíveis. As vezes consigo perceber os momentos em que verdadeiros encontros acontecem, as vezes não....... e isso depende do quão eu estou aberta aquele momento, aquela possibilidade de tocar e ser tocada. De ser preenchida por todas as informações, sentimentos, aromas, cores e barulhos que o meio me oferece e que a pessoa me oferta durante uns dos momentos mais difíceis para ela........o de entregar-se..... o de permitir-se ser tocada.....
Vejo que o deixar-se tocar pelo outro, por algo ou pelo momento é a porta que permite que um encontro aconteça, e para deixar-se tocar é preciso que o momento seja percebido, que a pessoa seja percebida na sua mais pura forma de estar ali .....
Para perceber temos que nos despir daquilo que foi - e do que fomos - e daquilo que pode ser - e queremos que seja. Caso contrário o passado e o futuro torna-se-ão uma porta intransponível e passaremos então a nos relacionar com o outro como uma ilusão, coberta com aquilo que um dia aprendemos ou com aquilo que desejamos ........... e a pessoa? E o presente?E o encontro? Vão embora....
O instante em que percebemos o encontro é aquele em que dois corações se encontram........, não há fala, não há gestos, não há pensamentos, nem sentimentos............ é como se o tempo parasse......... a respiração parasse........ o mundo parasse por pequenos-eternos segundos. Neste instante não há nada, não há Eu, nem o Outro, nem você, nem ele, nem ali, nem aqui, nem passado nem futuro - apenas o momento. Momento sublime, onde, não tendo nada acontecido, é sentido que tudo mudou.
Momentos sutis como esse aparecem a todo instante para nós, mas sinto que temos que nos deixar levar por ele. Temos que treinar isso todos os dias! Deixar que o outro seja o espelho do nosso aprendizado, da nossa possibilidade de crescer e de realizarmos o nosso encontro. Que o outro seja a possibilidade de nos encontrarmos com a parte de nós que é aquele "momento do encontro" - o momento silêncioso e transformador - onde nada acontece porém nada continua igual ao que era.
Esse é o verdadeiro encontro. Encontra-se consigo mesmo, através de tudo de de todos. E deste momento em diante continuar o caminho até o próximo encontro, até o próximo abanar de rabo de um cachorro ou da entrada de um cisco nos olhos trazidos pelo sopro do vento ......
Quem sabe o vento não veio nos ajudar a mudar nosso olhar para as coisas da vida? Quem sabe?
Obs.:Desejo a todos aqueles que são meus encontros que a vida de vocês torne cada momento presente, um presente de muitos encontros!
Imagem: Pearl of Searching. From “His Country” series. 1924 - Nicholas Roerich